segunda-feira, 10 de agosto de 2009


A GLOBALIZAÇÃO DA PELINTRICE.

Anda por aí uma moda nova em tudo o que é gestão institucional, que vai das empresas aos Serviços do Estado, a que eu chamo a globalização da pelintrice.

O cerne da coisa, é cada um afirmar-se pela redução da despesa e não pela procura da qualidade.

Já ninguém quer ter empregados vinculados, preferindo sub contratar o trabalho pela intermediação de empresas ditas de cedência temporária de mão-de-obra, mas que mais não são do que estruturas parasitas que nada produzem.

O resultado, é ninguém saber ao certo qual é a formação e a actualização de conhecimentos de quem executa uma tarefa, seja ela qual for.

A praga está a invadir áreas que deviam ser absolutamente restritas. E só não enumero aqui algumas, porque sei que teria imediatamente um processo em cima de mim, por difamação ou qualquer outra coisa para me lixar a vida.

Mas pergunto-me: os aviões que estão a cair mais do que o estatisticamente esperado, um recém-nascido que morreu há semanas em Espanha numa Unidade de Cuidados Intensivos, por via de um erro grosseiro e os doentes que foram gravemente prejudicados nos olhos num hospital português, não serão tudo males vindos da mesma moléstia:

a globalização da pelintrice?

É que, por exemplo, se um hospital precisa de pintar uma parede, é claro que não vai contratar um pintor para os seu quadros permanentes, se tem só uma parede para pintar. Adjudica o trabalho a um empreiteiro qualquer e ele que escolha o pintor. Desde que a parede mude de cor, está tudo bem.

Mas poderá esse hospital contratar dessa forma (exactamente dessa forma!) médicos e outros técnicos para fazer atendimentos de urgência e outras tarefas com doentes????

A resposta está nos jornais diários, nos anúncios que por lá aparecem: isso está a ser feito.

Basta ver a firmeza convincente com que os médicos do hospital onde houve o problema com os olhos dos doentes defendem publicamente que não falharam em nenhuma téccnica (entenda-se dos médicos que trataram os doentes), para se perceber que eles sabem o que aconteceu.... mas não podem dizer, nem lhes compete.

2 comentários:

Anónimo disse...

No dia 13 de Agosto de 2009, 3 dias depois de este texto ter sido aqui publicado, uma mulher que andava a regar uma horta morreu electrocutada por uma espia de um poste de linhas telefónicas onde havia corrente eléctrica!!!!!
É o que afirmam as testemunhas do caso, os vizinhos que a tentaram socorrê-la.
(aconteceu na povoação de Calhandriz, Concelho de Vila Franca de Xira)

Anónimo disse...

Como é que uma espia de um poste de madeira que suporta linhas de telefone tem electricidade para matar uma pessoa???!!!!
Seria impossível, se estivéssemos num país civilizado, como chegámos a ser na segunda metade do Século XX, em que as empresas produtoras de bens e serviços competiam entre si pela integração dos técnicos mais competentes, com mais formação técnica e constantes actualizações de conhecimentos, para produzirem um serviço sem falhas, que era, pensava-se nesses idos anos, a sua melhor imagem de marca junto dos clientes e do mercado.

Mas depois dos anos 70/80 de Século passado, as empresas deixaram de ser produtoras de bens e serviços, para se tornarem produtoras de oportunidades de negócios estéreis, sendo que o melhor de todos os almejados negócios, passou a ser a venda das próprias empresas.
Por junto ou desfeitas em retalhos, o grande negócio em vista, passou a ser a venda e revenda e compra e recompra das próprias empresas. Não interessa se produzem alguma coisa, o que interessa é que façam correr grandes fluxos de capital, deixando avultados lucros e comissões a pessoas que nada criam, nada produzem, nada acrescentam à Riqueza Nacional.

Para isso, é fundamental que a empresa não esteja obrigada com direitos de antiguidade adquiridos pelos seus trabalhadores. E assim, a maioria das empresas deixou de ter os seus próprios técnicos, recorrendo a mão-de-obra sub contratada a empresas que nada produzem a não ser esse agenciamento de força de trabalho que assim é duplamente explorada. Esta moléstia espalhou-se de tal forma, que até em Serviços do Estado está a infectar tudo, sendo que há muitos locais onde se desenvolvem actividades de grande complexidade e sensibilidade social e humana, onde custa saber se ainda existe ali alguém que saiba realmente o que anda a fazer.

Como se a única coisa que interessasse fosse a redução de custos. Como se essa suposta redução, ainda que fosse real, pudesse, em termos de riqueza Social e Nacional, substituir a qualidade, a excelência com que todas as empresas sonhavam e muitas conseguiam, até que chegou essa geração de gestores loucos dos anos 80 do Século XX.

A fasquia da excelência foi baixando, até chegarmos a esta crise que agora estalou há cerca de um ano, em que todo o Mundo percebeu que está na hora de, digamos, fechar uns dias para balanço…

Por exemplo, uma cadeia de distribuição alimentar, não produz nenhum produto alimentar, nem lhe interessa saber quem o produziu. Apenas lhe interessa que seja o mais barato. E nem interessa nada saber se é mais barato porque foi produzido em Espanha com trabalho quase escravo de Portugueses. Nada disso interessa. Só o baixo custo. Esse é o único indicador desta sociedade a que chegámos.

Isto já não é baixo custo: isto já é pelintrice.

Em cerca de trinta anos,
passámos do Século da Excelência, da Qualidade,
para o Século da Pelintrice